sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

Meu paper pra sarau

Gente, seguinte, eu realmente tenho dificuldade com essas interlocuções microfonadas. Pode ser que no decorrer do rolê eu possa me empolgar e assim deixar de articular, tipo shhhhuuu sshu shu shuu shu shuU, sabe? Agora acho que eu tô articulando bem, mas é que, não parece, eu pensei bem esse início. Meus poemas são muito curtos. Parece que todo mundo ao redor, aqui, louva essa coisa da poesia em seu estado vivão em fala. E mal eu ouso ler em voz alta o que acabei de escrever. Na verdade, nunca leio. É contraditório, talvez, mas é encantatório também e usualmente eu não ousaria. Só a escrita, por si só, já abre um belo dum rombo. Mas é realmente foda recusar estes convites de amigos sádicos, por mais que eu esteja aqui sempre suando em bicas e desintegrando o papel na mão. Acreditem, nesse caso, ao menos, é melhor do que ter um touchscreen, que teria acabado de cair. Enfim, meus poemas são curtos. Só que eu nunca os fiz pensando em vocalização. Porra, eu fui "vocalista" de banda desde os 15, sim, desses que não carrega nenhum instrumento e compensa rebolando no palco, só que aqui é completamente outra porra. São meus versos, de eu quietinho, lambendo ferida; coisa feita justamente pra que eu pudesse respirar um pouco do silêncio fora desse contexto em que meia dúzia de desajustados remam pra portos diferentes naquilo que já se chamou banda. Você investe a caceta dos teus anos 20 porque acredita em horizontalidade, coletividade, e dividir créditos de canções sob um nome de banda cujo único voto contra foi o meu. Foi reação Natural remediar os tímpanos surrados pelo som do riscado. Hoje estou melhor. Poderia estar melhor. Desculpem, eu estou nervoso e não foi pra isso que eu fui contratado, não é? Então é lógico que eu não vou pedir para que vocês imaginem cada poema como se tivesse sido escrito na sua frente. Seria demais. Mas não seria uma puta duma quase sinestesia?

terça-feira, 13 de dezembro de 2016

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Anjo malvado

infâncias algumas
Kevin diria
que são como continuidades
e é daí que deixam-se os legos
em posição para matar
ou ao menos causar imensa dor
e daí

é como se os brinquedos variassem

quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Banho de gato

é ficar sem gás
porque você esqueceu a conta
tomar banho de lavar a cabeça de manhã
praguejando
alguma canção de benquerer

deixar espuma atrás da orelha

domingo, 4 de setembro de 2016

Desenho

ver você vendo Snoopy
no contracampo
apenas a sua expressão
e aquela trilha sonora 
todo um drama
em seu rosto
eu fui feliz vendo você
vendo o seu desenho preferido da infância
quando acabou
o silêncio fez todo sentido

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

Loco

você me deixou louco
em casa
sozinho
você me deixou louco
uivando
pro Sol
ao relento
em casa
nossa filha me estranha

quinta-feira, 21 de julho de 2016

...

a gente vai fazendo coisas pela casa
 de maneira um tanto desgovernada
e pensa se não era melhor não estar
       logo ali junto fazendo nada

sábado, 12 de março de 2016

Personagens

na mesa em que tou
enquadro certinho
o cinema pornô
nunca tive assim
tal tela só pra mim
um filme de pessoas várias
que ao sair olham pros lados
achando que ninguém viu
 

terça-feira, 8 de março de 2016

terça-feira, 1 de março de 2016

Estourando

aquele frisson
de atravessar o bar
atrás do que se quer...
de pegar sôfrego

alguns pensando ser sedanapo

você pede uma caneta

outros pensando ser pra canudo

você senta e escreve
como esvaziasse
ou enchesse a cara

tudo bem, gente
é tudo droga mesmo

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

Armações

acostumei a ser míope
mesmo assim na vida de óculos
ver aquilo convém
acostumei a ver o que quero
em reflexos
que não têm

Sinuca de bico

tenho achado uma crueldade levar crianças a bares
aquela espera aditivada
com açúcares, de refrigerante
à espera
em não se orgulhar em ver o pai arrasar na mesa
tornei-me jogador irregular
não rolou a conexão
dou em quinas de caçapas
sóbrio
poderia ter começado a beber mais cedo

domingo, 31 de janeiro de 2016

Praça do Curro dos seus sonhos

santos de Piva
me privem
dos michês
vampiros
que querem
mais que um papo
um pouco
do pó
que as rodas
resfolegam

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Selfie na academia

uma nova cinética futurista
para além dos imaxes
para a frenética fricção
da academia para idosos

tem de tudo
mais que dia de feira
alguns velhinhos
já vi voar nesse rolê

a gente não sabe bem usar
nosso corpo
e aquelas máquinas

uns as usam
pra fumar

outros procuram
o que fumar
bem no chão

é muito louco juro!

me sinto jovem

como o senhorinho que destroça aquelesqui

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Cruzadas

foi sair pra respirar
e lembrei de saudar
Laroyê, Exu!
alguém que confiou na eternidade dos fardos de latinha
se fodeu justo quando atravessou
na faixa
no sinal verde
ajudei com os pés
tinha copo e crivo na mão
outros ajudaram mais
um outro me abordou
e falou que não sabia o que tinha acontecido
acordou sem os sapatos
os sapatos
e outra roupa
vai achar pra sempre que foi Cinderela por uma noite
tentei com humor e palavras amigas
mas deveras tempo fechou
cigarro no filtro e eu insistindo

achei melhor voltar pro balcão meio deprimente
pra ver Cris Judar falar de tridente
de Orixá
no conto seguinte
[de fato, choveu]

sábado, 2 de janeiro de 2016

Cross-eyed

eterno choque de egrégoras
há mais de trinta anos
e tantas vidas
levando porrada de tudo que é lado

Dialeto

era feito de jorros de palavras
como se fodesse em silêncio





até o urro urgir

Tem

pra que reclamar
a gente ainda tem cerveja
a gente ainda tem cigarro
de artista também tem
tem sono
tem
a gente tem tudo
não temo?

Jogos da melhor idade

tem vezes em jogos de ping-pong
erro feio a cortada
e gemo e comemoro
bola quica

e o outro lado

você
gritando bate bate